No dia 12 de janeiro de 2025, o Maranhão perdeu um de seus maiores cronistas e preservadores culturais, Antônio José Ferreira Miranda, aos 69 anos. Sua vida foi dedicada à memória histórica de São José de Ribamar, cidade que ele eternizou em suas pesquisas, escritos e obras artísticas. Sua partida representa uma perda irreparável, mas seu legado permanecerá como uma fonte de inspiração para estudiosos, artistas e a comunidade ribamarense.
Nascido em São José de Ribamar, Antônio Miranda demonstrou desde cedo uma profunda conexão com a história e as tradições de sua terra natal. Filho de Benevenuto Procópio da Silva Miranda e Raimunda Eva Ferreira Cantanhede Miranda, foi na convivência com os mais velhos e no encantamento pelas lendas locais que ele desenvolveu seu interesse pela memória coletiva. Mais tarde, transformou essa paixão em uma missão: preservar e disseminar a história de sua cidade, culminando na publicação de Tradições, Lendas e História de São José de Ribamar em 2021, um marco para a historiografia local.
A trajetória de Miranda foi marcada por múltiplas facetas. Serviu à Marinha do Brasil por 23 anos, experiência que lhe permitiu conhecer 12 países e adquirir uma visão ampla do mundo. No entanto, problemas de saúde o trouxeram de volta ao Maranhão, onde redescobriu seu propósito. Frente à ausência de registros sistematizados sobre a história ribamarense, ele iniciou uma intensa pesquisa em acervos como a Biblioteca Benedito Leite, o Arquivo Público do Estado, a Academia Maranhense de Letras e arquivos eclesiásticos.
Sua contribuição foi além da pesquisa histórica. Antônio Miranda era também um artista multifacetado, capaz de expressar a memória coletiva de sua cidade por meio de desenhos, esculturas, maquetes e réplicas. Obras como a reprodução do Titanic, concluída em 2009 em homenagem ao centenário do naufrágio, e a caravela da fundação de São José de Ribamar destacam sua dedicação ao detalhe e à narrativa histórica. A exposição do Titanic, que reuniu mais de 6.700 assinaturas, exemplifica sua habilidade de transformar arte em instrumento de educação e preservação cultural.
Para Antônio Miranda, a história era mais do que um conjunto de fatos: era um elo vital entre o passado e o presente, uma âncora que mantinha a identidade de um povo viva. Ele acreditava que o esquecimento era o maior inimigo de uma comunidade e dedicou sua vida a combater esse apagamento histórico. Sua obra nos alerta para a importância de valorizar nossas raízes e nos desafia a continuar essa missão de preservação e memória.
Ao refletir sobre a história e cultura de São José de Ribamar, Miranda costumava dizer: “Essa cidade representa o mundo”. Essa visão, expressa com emoção e profundidade, sintetiza sua vida e legado. Ele nos deixa a responsabilidade de proteger e cultivar a história que ele registrou com tanto amor.
Antônio Miranda não foi apenas um guardião da memória ribamarense, mas um exemplo de como o compromisso com a cultura e a história local pode transformar comunidades. Sua partida nos lembra que a identidade de um povo se constrói pela valorização de seu passado.
Descanse em paz, Antônio Miranda. Seu nome será lembrado como sinônimo de dedicação, cultura e amor por São José de Ribamar. Sua obra transcende o tempo e continuará a inspirar gerações.